domingo, 18 de abril de 2010

Inveja

Recentemente tenho parado para observar um fato curioso no futebol: Torcidas têm comemorado muito mais a derrota dos adversários do que as vitórias dos seus respectivos times: cruzeirenses comemoram as derrotas do Atlético e atleticanos vão ao delírio com as derrotas do Cruzeiro; flamenguistas festejam os tropeços do Vasco e os vascaínos festejam as derrotas do Flamengo. Isto se repete com quase todas as torcidas em quase todos os estados. (Acontece pelo menos em todas os estados que eu já conheci). Este fato, totalmente sem importância diga-se de passagem, me chama a atenção para um defeito que parece estar na “carne” da nossa cultura: a inveja.

Um certo dia, ouvi uma estória (não tenho certeza de é verdadeira) de que o pesquisador brasileiro Carlos Chagas estava fortemente cotado para vencer um prêmio Nobel. Acontece que os seus colegas pesquisadores brasileiros, justamente de quem se espera um apoio, não votarem em Chagas. Claro que esses colegas não deveriam votar por coleguismo os coisa do tipo. Entretanto, ao que parece, eles não votaram por pura inveja. Veja uma matéria sobre esse caso aqui.

Segundo Zuenir Ventura, a Inveja não é o desejo de possuir a vitória que o outro obteve, mas sim a tristeza sentida por essa vitória obtida pelo outro*. Esta postura faz do invejoso, um medíocre.

Uma outra estória sobre inveja diz respeito a um homem que encontrou um mago. Esse mago disse que iria conceder um desejo ao homem, mas teria uma condição: o pior inimigo desse homem receberia em dobro o que fosse desejado. O homem então, desejou perder um olho para que o seu inimigo perdesse os dois.

A inveja não só atrapalha o sucesso do invejoso. Quando o invejoso pode, ele atrapalha ou retarda o sucesso do invejado. Basta parar um pouco para ver quanto mal esse sentimento e postura fazem não só às pessoas, como às empresas, à sociedade.

No primeiro parágrafo desse texto, eu disse que essa rivalidade no futebol era algo sem importância. Entretanto, pensando um pouco melhor acho que isto não é tão irrelevante assim. Basta ver como tem crescido a violência em virtude dessa rivalidade. E o interessante é que existem muitos repórteres e jornalistas que fomentam essa rivalidade (que fica a cada dia mais próxima da criminalidade). O brasileiro tem que “secar” o argentino, e vice-versa. Bobagens como essas se multiplicam (desde muitos anos) nos jornais e colunas esportivas. Já presenciei uma pessoa atacar verbalmente uma outra só pelo fato de serem de times diferentes! Elas não se conheciam e, num piscar de olhos, já possuíam opiniões formadas um sobre o outro.

Um amigo, muito sábio na minha opinião, me disse uma vez, que se conhece uma pessoa pelos pequenos detalhes. Esses “pequenos defeitos”, sem importância como a inveja, o jeitinho, as “leis que não pegam” vão definindo o nosso caráter. De certa maneira, definem também aonde vamos (ou não vamos) chegar. Sinceramente, eu acho que vale a pena parar para observar se vale a pena continuar nesse rumo.


* Extraído do livro "Mal Secreto - Inveja". Zuenir Ventura, edit. Objetiva.

quarta-feira, 10 de março de 2010

O bom ladrão

Recentemente, ouvindo a rádio CBN, ouvi um comentarista dizer que um trecho de um dos sermões do pe. Antônio Vieira cairia muito bem para a política dos dias de hoje. Por coincidência, estava lendo o livro do referido padre e encontrei o texto citado pelo comentarias da rádio. Tomo a liberdade de transcrever esse trecho:
"Sermão do Bom Ladrão
O ladrão que furta pra comer não vai nem leva para o inferno; os que não só vão mas levam são os ladrões de maior calibre e de mais alta esfera, os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo predicamento distingue muito bem São Basílio Magno (...). Não são só ladrões, diz o Santo, o que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa. Os ladrões que mais própria e dignamente merecem esse título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo de províncias, ou a administração de cidades, os quais, já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco; estes sem temor nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados; estes furtam e enforcam.
Diógenes, que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu que uma grande tropa de varas* e ministros de justiça levam a enforcar uns ladrões e começou a bradar: Lá vão os ladrões grandes enforcar os pequenos. Ditosa Grécia, que tinha tal pregador. Quantas vezes se viu em Roma ir a enforcar um ladrão por ter furtado um carneiro e no mesmo dia ser levado em triunfo um cônsul ou ditador por ter roubado uma província! E quantos ladrões teriam enforcado esses mesmos ladrões triunfantes? De um chamado Seronato disse com sábia contraposição Sidônio Apolinar: Seronato está sempre ocupado em duas coisas - em castigar furtos e em os fazer. (...) Queria tirar os ladrões do mundo para roubar ele só"
Este trecho foi extraído do livro: "Páginas Espirituais", Padre Antônio Vieira, Editora Quadrante, São Paulo, 2008. Páginas 13 e 14.
Detalhe: O pe. Vieira viveu no século XVII, entretanto, infelizmente, como disse o comentarista da CBN, as suas palavras caem bem a muitos líderes mundiais atuais.

* Varas: insígnias de mando ou qualidade

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Política, cidades, políticos ...

Recentemente li um livro muito simples e muito interessante chamado "Política: Quem Manda, Porque Manda, Como Manda" escrito por João Ubaldo Ribeiro. Nele há, dentre muitas outras, duas idéias que me chamaram a atenção:

1) não existe, em ultima análise, um cidadão apolítico, ou seja, alguém que está alheio à política. Essa pessoa é sim um conservador, ou seja, prefere que fique tudo como está.

2) num estado democrático (como o Brasil) o parlamento (senado, assembléias e câmaras) são a legítima representação do povo que a elegeu. Assim, todos os adjetivos atribuídos a esses representantes servem para qualificar também o povo ao qual eles representam. Dessa forma não tem sentido, por exemplo, dizer: o Congresso Brasileiro é corrupto, porém a população brasileira não é corrupta.

Lembro que estas não são idéias minhas, mas sim de um cientista político bastante respeitado.

Pensando nisso, eu resolvi dividir com vocês diversas fontes para que, os que quiserem, possam conferir os dados das suas cidades, estados e políticos. Caso entendam que devem cobrar mais dos seus representantes vou passar também uma fonte de contatos.

- Informações coletadas pelo IBGE sobre cidades ( http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 ). Neste link, basta escolher o estado e a cidade. É possível conhecer, por exemplo, quantos veículos emplacados a cidade possui, número de habitantes, escolaridade, desigualdade, números econômicos, etc.

- Informações sobre políticos do legislativo ( http://www.excelencias.org.br/ ). Neste link é possível encontrar
informações sobre senadores, deputados federais, estaduais e vereadores de algumas das grandes cidades. Quantos (e quais) projetos relevantes foram apresentados, eventuais processos na justiça. Neste link eu vi que o Senador mineiro Eliseu Resende apresentou apenas 2 projetos em 3 anos de mandato, enquanto o Senador Capixaba Renato Casagrande apresentou 65 projetos (consulta realizada dia 25/01/2010).

- Informação sobre o dinheiro da união repassado a estados, municípios e órgãos governamentais (http://www.portaltransparencia.gov.br/ ). Nesse link, eu descobri que a minha cidade natal, recebeu nada menos que R$ 380.000,00 reais para realizar 2 festinhas para a sua população de 12.000 habitantes. Enquanto isto, a cidade possui ruas com buracos enormes, um péssimo sistema de ensino e não possui um sistema de saúde razoável. Não estou dizendo que a administração dessa cidade esteja contrariado a sua população e alterando as suas prioridades. Ela está fazendo aquilo que a maioria democrática dessa cidade acha que é melhor fazer. Só não vale depois reclamar que as ruas têm buracos, que a educação e a saúde são ruins, etc...

Com frequência eu entro em contato com senadores e deputados. Alguns respondem (em geral, os que mais trabalham), outros não. De qualquer maneira, procuro fazer a minha parte. Eis algumas fontes de contato:

- Senado Federal.
- Câmara Federal.
- Assembléia Legislativa de MG.

domingo, 12 de abril de 2009

Estagiário Sênior

Tenho acompanhado o mercado de Tecnologia da Informação (assinando listas de emprego, conversando com colegas) e vejo crescer a cada dia a procura por um tipo de profissional: inglês fluente, experiência de mais de um ano em linguagens de programação (Java, por exemplo), frameworks de persistência e visualização, banco de dados, que saiba trabalhar bem em equipe, seja proativo. Acontece que estes requisitos são para candidatos a uma vaga de estágio!
Já trabalhei na iniciativa privada por alguns anos e ainda acompanho-a razoavelmente de perto para perceber uma prática lamentável: muitas empresas vendem horas de analistas e consultores sêniors, mas enchem os projetos de estagiários. Daí o motivo das empresas de RH procurarem um aluno para participar de um estágio, mas que preencha os requisitos que citei anteriormente.
Alguns colegas professores, que gerenciavam os estágios de final de curso, diziam-me: é freqüente empresas mandarem embora profissionais seus, substituindo-os por estagiários. Os garotos, muitas vezes, dão conta do recado. Acontece que, com a pressão e a responsabilidade crescentes, eles almejam melhores salários (nada mais justo!). Entretanto, muitas vezes esse desejo não é atendido.
Vejo também um outro cenário de abuso nos “estágios” acontecendo aos montes nas empresas de consultorias. grandes empresas de consultoria vendem projetos caríssimos, considerando consultores sêniors e plenos no projeto, mas na hora de executar, colocam “estagiários sêniors”, ou seja, aqueles estagiários que já estão ha mais de um semestre na empresa e já se mataram para aprender quase tudo o que a empresa vende em suas consultorias. A equipe de execução fica assim: um ou dois gerentes da consultora juntamente com mais um ou dois “estagiários sêniors”. Tenho vários amigos que me relatam esta situação ocorrendo no mercado de TI (tecnologia da informação) e em TA (tecnologia de automação). Muitas vezes, os serviços prestados por essas empresas de consultorias deixa a desejar. Isto acontece muito mais que possamos imaginar. A pergunta que fica é: como um absurdo destes acontece? A resposta é simples: As grandes empresas que contratam essas consultorias, muitas vezes, não fiscalizam bem os projetos e, principalmente, são incompetentes para medir o retorno obtido por esses projetos.
Sempre aconselho os meus alunos a procurar as boas empresas, ou seja, as empresas que respeitam seus funcionários, sejam eles estagiários ou efetivos. Geralmente, as melhores empresas são as pequenas (até 50 funcionários) ou médias empresas (até 400 funcionários). Aquela empresa na qual o dono te conhece. As grandes empresas têm mais dinheiro, mas muitas vezes, tratam os funcionários como números.
Para o bom profissional, não falta emprego. Pode ser que demore, mas com luta e persistência, as boas oportunidades sempre aparecem.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Formação de Qualidade

Recentemente, li uma matéria no portal uai que me chamou muito a atenção. A reportagem dizia que o Brasil possui pouca mão de obra especializada. Num primeiro momento, fiquei feliz, pois acreditei que esse cenário seria mudado uma vez que é cada vez maior o número de pessoas cursando faculdades em nosso país. Entretanto, refletindo um pouco mais e fiquei preocupado, pois são muitos colegas professores que reclamam que muitas faculdades estão quase proibindo a reprovação e estão quase que literalmente vendendo diplomas.
Durante alguns poucos anos, participei da equipe de avaliação para contratação de pessoas de uma empresa de TI. Era impressionante o despreparo de algumas pessoas formadas em faculdades que estampam os outdoors das grandes cidades como Belo Horizonte. Eu não me refiro ao conhecimento técnico, mas à capacidade de usar esse conhecimento. Fica claro para mim, que dentre outras deficiências está a falta de prática de exercícios elaborados que levem os alunos a pensar.
Não basta possuir laboratórios de ponta e professores qualificados (conheço muitos professores excelentes dessas faculdades). É fundamental deixar que esses profissionais exercitem seus alunos. Fatalmente ocorrerão reprovações. Fazer com que o aluno despreparado seja aprovado a qualquer custo faz com que esse não se dedique na medida necessária para obter o grau de formação pretendido.
Para exemplificar, recentemente o MEC impediu que 26 cursos de direito disponibilizassem novas vagas para alunos, segundo reportagem da Folha OnLine. Ainda bem que temos provões, provas da OAB e similares para avaliar recém-formados. Entretanto, isso ainda é pouco.
O caso que mais chamou a minha atenção foi reportado por uma amiga entrevistadora. Segunda ela, quando o entrevistado foi questionado do porquê ele deveria trabalhar na empresa em questão, esse disse: “Quero trabalhar nessa empresa, porque fiz um grande investimento na minha formação e agora quero ter o retorno”. Empresas sérias e competitivas não esperam esse tipo de resposta de um de seus profissionais. O candidato se portou como quem investe numa bolsa de valores ou num fundo de investimentos. Eu cheguei a pensar que esse entrevistado levaria alguém ao PROCOM, depois de saber que não seria contratado. Talvez ele devesse mesmo procurar o PROCOM, mas para levar a faculdade que o “preparou” para o mercado de trabalho.

sábado, 4 de agosto de 2007

A Terra dos Apagões

Está na moda a palavra “apagão”: apagão aéreo, apagão rodoviário e o apagão energético, sendo este o primeiro de todos e que motivou o uso da palavra em questão.

Na prática o uso desta palavra está relacionado ao seguinte significado: falta de algo que existia antes associado a uma desestruturação ou desorganização do setor responsável. Exemplos: Apagão aéreo denota falta de vôos associado a um verdadeiro descontrole sobre o que se deve ou não ser feito para organizar a malha aérea existente, além de um planejamento do seu crescimento. Apagão rodoviário denota um estado caótico das rodovias brasileiras e que associado à imprudência dos motoristas as transforma numa verdadeira máquina de exterminar vidas. Finalmente, o apagão energético que de vez em quando volta a nos ameaçar devido à falta de investimentos no setor.

É interessante observar como estamos ficando acostumados a apagões e expandindo o seu uso. Tradicionalmente, o Brasil sempre foi conhecido como um país hospitaleiro, que sabia tratar as pessoas com um grande “calor humano”. É difícil verificar esta hospitalidade e “calor humano” nas ruas das grandes cidades do nosso país. Estas, já começam a implantar o vou chamar de apagão hospitaleiro.

As notícias e o nosso cotidiano também nos proporcionam a triste experiência de verificar outro apagão; o apagão moral. Quantos não são os casos de corrupção que surgem na política? Nos governos? E, segundo um grande amigo meu, o governo é apenas uma amostra do que vemos na população. Com quantas pessoas “espertas” nós convivemos durante o dia? Aqueles espertos que ficam calados quando o vendedor volta troco a mais, aqueles espertos que oferecem suborno para policiais e demais autoridades, aqueles espertos que não perdem a oportunidade de sair sem pagar e finalmente aqueles espertos que sempre que podem, furam uma fila. Tudo mundo faz, não é verdade? Não tem nada a ver!

Será?

Se manter na linha é difícil. Ser honesto é muito difícil e a ajuda dos amigos e colegas é fundamental. Entretanto, segundo Alberto Caeiro “em terra de fugitivo, quem caminha na direção contrária parece estar fugindo”.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Leitura, o Melhor “Remédio” para o Envelhecimento

Muitas pessoas se preocupam muito com o amanhã. Em particular, estão preocupadas em como serão e como estarão daqui a alguns anos. Havia um mito de que, à medida que vamos ficando mais velhos, o nosso cérebro vai se degradando e perdemos a capacidade intelectual. Graças a Deus isto não é verdade e a ciência vem provando isto.

Segundo uma entrevista do dr. Drauzio Varella, um adulto perde poucos neurônios durante a velhice a ponto de comprometer sua atividade intelectual, salvo casos de males específicos como o Mal de Alzheimer. Na verdade o cérebro, como qualquer outra parte do corpo, começa a vacilar quando tem seu uso diminuído. Nós começamos literalmente a morrer, quando abdicamos de tudo, "aposentamos da vida".

É claro que temos um momento da nossa vida que o corpo está no ápice do seu vigor. Por exemplo, um jogador de futebol não tem condição de ser um craque durante toda sua vida. Entretanto, um bom técnico pode ter uma carreira longa e de sucesso, usando algo que ele cultivou durante sua trajetória: Experiência. Usar a cabeça hoje analisando os fatos à luz de comparações com outras experiências adquiridas através de leituras ou de sua própria vivência é o grande presente que o tempo pode nos proporcionar.

O dr. Drauzio diz algo que facilmente verificamos na prática: o melhor remédio para o envelhecimento é a leitura. Uma boa leitura, além de nos tornar pessoas interessantes, informadas e atualizadas, mantem o cérebro em dia. Bons escritores, como por exemplo, Rubem Alves, Jack Welch, Peter Senge, Taylor Caldwell e J. R. R. Tolkien nos ajudam muito a compreender melhor a vida ou exercitar a criatividade viajando por histórias imaginárias ou até mesmo a administrarmos melhor nossa carreira e nossa vida. Resta-nos, portanto, escolher bons livros e começar a “malhar os neurônios”. Mãos à obra!